sexta-feira, 6 de julho de 2012

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Resenha: "Dom Casmurro" de Machado de Assis


Machado de Assis (1839-1908), escrevendo Dom Casmurro, produziu um dos maiores livros da literatura universal. Mas criando Capitu, a espantosa menina de "olhos oblíquos e dissimulados", de "olhos de ressaca", Machado nos legou um incrível mistério, um mistério até hoje indecifrado. Há quase cem anos os estudiosos e especialistas o esmiuçam, o analisam sob todos os aspectos. Em vão. Embora o autor se tenha dado ao trabalho de distribuir pelo caminho todas as pistas para quem quisesse decifrar o enigma, ninguém ainda o desvendou. A alma de Capitu é, na verdade, um labirinto sem saída, um labirinto que Machado também já explorara em personagens como Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas) e Sofia (Quincas Borba), personagens construídas a partir da ambigüidade psicológica, como Jorge Luis Borges gostaria de ter inventado.

Um livro boníssimo, como diria José Dias. Numa narração em primeira pessoa, o livro Dom Casmurro abrange uma traição entre a esposa e o melhor amigo de Bentinho. Capitu traiu o não traiu Bentinho? Eis aí um dos maiores enigmas da literatura brasileira, creio eu. Bentinho pode sim ter cometido um erro de interpretação, pois várias vezes lemos passagens em que seu ciúme doentio por Capitu fica evidente. Ao mesmo tempo, Machado de Assis construiu uma personagem feminina com a personalidade forte, uma mulher que não fala o que se passa dentro dela, não temos acesso ao que ela sente. Machado de Assis, um dos maiores nomes da nossa literatura, após mais de 100 anos da publicação da obra, consegue ainda manter as pessoas discutindo sobre o enigma presente no livro, sem que haja uma resposta para ele. Enquanto eu lia a única coisa que eu conseguia pensar era porque o nome da obra é Dom Casmurro, se Bentinho só fala de Capitu! Quando eu ainda estava no começo do livro, eu lia e relia milhares de vezes o mesmo capítulo porque eu não sentia que eu realmente tinha entendido, e a cada vez que eu relia, um novo aspecto surgia, mas quando você entra na história (não me pergunte em que momento isso acontece, apenas acontece) fica mais fácil de entender. Meu primeiro Machado, e também o primeiro clássico brasileiro que eu leio, e posso lhes garantir que ainda há de vir muitíssimos!

Garota Literária, -M.

2 comentários:

  1. Os clássicos brasileiros constroem personagens que não vemos nos livros atuais. Acho que Capitu durará muito mais que Hermione!
    Eu nem me dou ao trabalho de entrar em discussões sobre a traição. Acho que já não dá pra saber pelo simples fato do narrador ser o Bentinho, que não deve ser lá muito imparcial! O quanto será que ele escondeu na narração, e o quanto ele nos conta e é a verdade?
    (eu falando como se fosse um caso real. #alok)

    Beijos!
    Miriam - Booker Queen!

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    1. Se fosse um caso real eu correria atrás da Capitu perguntando qual era a versão dela da história!!! Tenho certeza que não seria a única hahahaha Mas o que realmente faz com que a história seja considerada um clássico é o fato de que não seja revelada a verdade. E, realmente, os personagens dos clássicos são muito bem construídos, porque ao mesmo tempo que eu começo a achar que a Capitu não traiu foi nada, eu vou lembrando dos detalhes da personalidade forte dela (descritos por Bentinho, o que realmente não deve ser imparcial) que deixa uma desconfiança, e então deixam a gente "em cima do muro" como dizem! hahahaha

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